Super Artigo do nosso Bispo Dom Luiz Mancilha.

Mulher presença única e indispensável

A Sociedade atual tem costume de homenagear ou colocar em destaque fatos e pessoas. Dia do professor, do médico, do advogado, do padre, do lixeiro etc. Dia 8 de março comemoramos o dia da mulher. É sobre este assunto que convido a refletir. O dia da mulher não é qualquer dia. A mulher tem um lugar especial na construção da Sociedade mais humana e mais terna.
O nosso mundo ainda é muito machista. Pense, por exemplo, no mundo da economia, agora abalado pela crise mundial! Parece-me que neste ambiente predomina a presença masculina. Faltam mulheres economistas com o mesmo poder de raciocínio, mas com maior capacidade de humanidade, intuição e visão da importância da ternura. Tenho a impressão que esta é uma área em que falta o equilíbrio dos opostos que se complementam.
Parece que a Sociedade pós-moderna ainda não descobriu que a complementaridade entre masculino e feminino, homem e mulher, não acontece apenas no encontro sexual, mas em todos os aspectos da vida humana. Deus criou homem e mulher e os criou iguais! Criou-os para que juntos presidissem a Criação! E viu que tudo o que criara era muito bom!
Nossa Sociedade ainda não descobriu a grandeza da complementaridade e o alcance profundo deste dom do Criador! A mulher ainda não ocupa o “seu” lugar na sociedade. Por que não? Talvez uma visão estreita e pequena diante do mistério da complementaridade homem / mulher. O poder do mais forte sempre predominou no relacionamento humano e, ao homem foi atribuída essa característica “ser forte”. E este tem sido o critério usado no relacionamento humano. Manda o mais forte. O homem é preparado para dirigir e mandar, por ser considerado mais forte! O mais fraco obedece, ou se reserva o direito da astúcia, no caso a mulher, considerada mais fraca. Sei que já existem mulheres ocupando cargos na economia, na política e até no Governo. De fato existem. O mundo está mudando! Porém, sem querer arriscar-me em julgamentos, muitas mulheres que se destacam nesses ambientes usam o mesmo critério para justificar o lugar que ocupam: o poder e, as qualidades femininas ficam esquecidas e até ignoradas. Uma pesquisa sobre a contratação de mulheres para cargos tradicionalmente exercidos por homens, afirma que os executivos, na hora da contratação, escolhem mulheres que se apresentam de sóbrio tailleur (conjunto de saia e paletó), que se transformou numa espécie de uniforme feminino no mundo dos negócios. 62,99% dos executivos afirmaram que “o terno para mulheres”, é o traje preferido na hora da entrevista (Revista Catho online). Escolhida com esse critério, a tendência feminina é de tentar parecer-se com o homem, imitar seus comportamentos para permanecer no cargo e não mostrar suas qualidades e especificidades que complementam o lado masculino de “olhar” o mundo.
A identidade da mulher não é apenas o instinto materno, mas suas qualidades especiais que humanizam o ambiente de trabalho e de missão no exercício de sua capacidade de harmonizar racionalidade e ternura, racionalidade e intuição, capacidade de decisão e humanismo.
E na Igreja? Fala-se muito que a Igreja é machista. Parece-me que esta crítica é feita sob o mesmo prisma, ou o mesmo critério, o poder. Olha-se os membros da Igreja a partir da hierarquia, sob o ponto de vista do poder. Se nos fixarmos neste critério é verdade, a mulher não tem direito ao poder. Porém, esta é uma visão errada, estreita e pequena, também entre a hierarquia da Igreja. O que vale não é o poder, é o seu lugar de “Sinal” de Alguém que realmente é Poder. A hierarquia da Igreja não é o poder, é apenas um Sinal que significa e realiza a decisão de poder. O poder é Deus, não é o padre ou o bispo, embora sejam um Sinal Daquele que tem o poder. Somos todos “servos inúteis” (Lc. 17,10).
Dentro do contexto religioso, a importância, o lugar e até o poder da mulher, abafado pelo contexto histórico da organização humana, teve seu reconhecimento e continua sendo uma referência. A Palavra de Deus, Palavra Criadora, escolheu aproximar-se da Humanidade através da mulher! Aquela que era considerada fraca e nem era contada nas estatísticas, “eram cinco mil sem contar as mulheres e as crianças” (Lc. 14,21)! Foi da mulher que a Palavra Criadora fez surgir o Novo Homem e a Nova Humanidade! Existe maior dignidade e maior poder? Foi a Mulher que apresentou o Salvador como Sinal de Salvação e de Esperança para a humanidade desejosa de sentido de vida e de Vida Eterna. Foi a mulher que ensinou o jeito certo de viver e de exercer o poder: “Eu sou a serva do Senhor, Faça-se em mim segundo a Sua Palavra”! (Lc. 1, 38). Foi a mulher que ensinou a nova humanidade a abrir-se à Ação do Espírito, à docilidade e ternura que vem do Alto. Foi a mulher que recebeu o grande elogio de Jesus Cristo, “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc. 11, 28). Foi a mulher que teve coragem e honradez em apoiar o Filho nos momentos mais difíceis, na Via Sacra, e O acolheu em seus braços como Senhora da Piedade. Foi a mulher que esteve com os discípulos “fujões” e arrependidos no Cenáculo à espera do Paráclito prometido por Jesus Cristo, Pentecostes! (At. 1,14). Esta mulher foi elevada aos céus e é venerada como mãe da Nova humanidade, intercessora, qual em Caná da Galiléia e, Medianeira junto a Jesus Cristo o Único Mediador.
Na História da Igreja a mulher teve um papel forte e importante, e, nos momentos mais difíceis: Santa Catarina de Sena é um exemplo e Joana D´Arc que teve sua importância não pelo poder, mas pela sua autoridade intuitiva de mulher de fé. Inúmeras são as mulheres na vida da Igreja, desde a Mãe de Jesus e Maria Madalena, as primeiras evangelizadoras!
E, hoje, em Vitória do Espírito Santo? Ai da Igreja se não fosse a mulher. Ela está presente em toda a ação evangelizadora e nos lugares mais importantes. O Sínodo Arquidiocesano é prova disso. A pesquisa científica sobre a realidade de nossa Igreja foi liderada por uma mulher que comandou sua equipe. O resultado da pesquisa foi analisado nas sessões sinodais sempre com a participação e percepção das mulheres! Todas à luz da Mulher, Maria! Todas qualificam a vida da Igreja nas diversas funções, serviços, formação e desenvolvimento da Comunidade na fé, Caridade e Esperança. São milhares que, em igualdade com o homem, sem perder suas especificidades, se complementem na ação evangelizadora.
Saúdo, pois, a mulher no dia da mulher e todos os dias do ano, agradecendo a todas as mulheres que me ajudam e completam o serviço que procuro prestar à Igreja, mulher presença única e indispensável! Esta é a beleza da nova criatura, o serviço total ao próximo expresso no amor universal e realizador da pessoa humana, homem e mulher! Maravilhas da Palavra Criadora!


Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc
Arcebispo Metropolitano de Vitória do ES


Fonte: aves.org.br

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